Edital Antologia "Voyeur - A Chave de Eros"

 



Voyeur – A Chave de Eros

Você já viveu essas noites abafadas em que as opções são escassas? Caminha pelas ruas da cidade, mãos nos bolsos, tentando encontrar um resquício de charme em sua vida. Mas, no fim das contas, só restam uns trocados de vinte pratas do café, meia dúzia de cigarros medicinais sabor laranja e dois chicletes. Diante das opções, escolhe ir ao cinema, não tanto pelo filme em si, mas para passar um par de horas observando casais que nem sempre estão interessados no que passa na tela.

Descobri esse hábito quando ainda era um fedelho, espiando as escapadas extraconjugais da vizinha pela janela do quarto. Dois anos de histórias suculentas, até que o protagonista de sua traição foi meu próprio pai. Se eu tivesse um pingo de escrúpulos, teria abandonado essa prática. Mas não estou falando exatamente de alguém com escrúpulos. Gosto de bisbilhotar casais em seus momentos íntimos, adoro observar pessoas solitárias em casa, mulheres se trocando para ir ao trabalho e homens solteiros vivendo suas aventuras nas noites de sexta.

A terapeuta me rotulou de degenerado, mas nunca me dei bem com terapias. Prefiro me considerar um colecionador de histórias.

***

1950.

A estação sugeria abandono. Um leve farfalhar das folhas pelo chão. No alvorecer, apreciara manter-me às sombras. Aguardava o trem diariamente, um ritual. Mas aquele dia, não estava só!

Foi sutil, ainda assim, pude ouvir. O lamento surgiu entre as leves tragadas do cigarro. Quando o levou a boca, a brasa denunciou sua presença.

Um aroma adocicado se alastrou. Senti a adrenalina me invadir e o temor em me aproximar, afinal, era uma pessoa estranha, também aguardando pelo trem.

O universo pareceu discordar de meus pensamentos conflitantes. O sol nasceu em sua magnitude e alcançou a face escondida e trouxe-me a ânsia por descobrir quem se omitira tão obstinadamente.

Trajava casaco de sarja, cor creme, longo, não tão longo a ponto de esconder as pernas... uma fina camada em tom de avelã. Meias finas. Minhas entranhas latejaram ao imaginá-las penduradas num varal.

Perscrutei a vestimenta buscando informações. Em seus pés calçara um salto quadrado da mesma cor do casaco, era como um daqueles de senhora: salto de 10 centímetros, afivelado. A introspecção, a maneira que tentou em vão se esconder, alucinou-me. Fora preciso recobrar o juízo urgentemente.

As estaladas do elástico em meu pulso esquerdo ardiam ao ponto de trazer-me de volta. Os sons que outrora eram sutis e quase despercebidos, passaram a ser chamativos. Nervosos.

Notou-me.

Eu, a observadora.

Os passos comedidos falavam muito:

Eu li certa curiosidade, porém, também a carga de adrenalina a denunciar o medo. Sabia. Era a caça.

Sorri.

Se aproximou. Não muito. O suficiente para me desafiar a ver o que se escondia por detrás dos óculos exagerados. Mal se via as finas sobrancelhas se não fossem seus arcos bem delineados. Atinou-se certamente para minha baixa estatura. Eu vi. Sentiu-se confiante?

A voz soou com distonia. Minha libido se elevou. Ofereceu-me um cigarro.

Aceitei!

Um subterfúgio para segurar suas grandes mãos. Unhas em rosa pastel! Meu percurso seria diferente, o alvo era outro. Procurei por minha câmera fotográfica, uma Nikon I de dentro de minha bolsa de couro marrom e parti, seguindo Vanessa — fora esse nome que se apresentou. Isso não importou muito…

 Seu número fora o 22 e poder vê-la pelas vielas burguesas, oculta dos olhares, fodendo com seu pau os mais belos homens da boa sociedade foi... oh, devaneios... devassos... ah, depravação me umedecera!

Levei meus pensamentos infames de observadora até meu humilde estúdio de fotografia. Lá, homens e mulheres estampavam os varais e paredes daquele recinto crepuscular, em livres atos de desejo.

A minha caça, por ora, sorrira em sua sodomia quando mirou em meu olhar obsceno.

Será que desconfiara de minha perversão?

Sentada próxima a ela, levantei minhas mãos a enquadrando. A peruca ondulada loira fugia de seu lenço florido.

Daria uma bela fotografia, despida... já sem os óculos escuros a vi... Belos olhos verdes!

Bem-vindos ao meu mundo!

Aqui, através de lentes escondidas pelas sombras, eu os convido a observarem.

Vejam!

Assistam!

Sussurrem!

Sejam Voyeurs!

 

Creepy Metal Show Editorial                    Edital 005/2023

Título:  Voyeur – A Chave de Eros

 

Organizadores: Kátia Andrade e Joe Alvez

 

Sobre o gênero principal: Erótico.

 

Sobre os gêneros relacionados: Romance, Scifi, Humor, História Alternativa, Ficção Alternativa, Terror, Suspense, entre outros, desde que relacionados com o tema proposto.

 

Sobre as características norteadoras: O(s) protagonista(s) se encontra(m) nos limiares entre o viver de modo pleno sua sexualidade, liberando suas fantasias e as moralidades de uma sociedade hipócrita, que prefere se revelar no “apagar das luzes”.

 

Sobre o formato: Contos.

 

Sobre a formatação: Cada conto deverá ter tamanho mínimo de 2 (duas) laudas e máximo de 8 (oito) laudas, em fonte Arial 12, espaçamento 1,5, envio obrigatório em word, com no máximo 18.000 (dezoito mil) caracteres. Contos que excederem o tamanho estipulado, pagarão uma taxa extra de R$ 5,00 (cinco reais) por página excedente.

 

Sobre o número de contos: Os autores e autoras poderão participar com até 02 (dois) contos, os quais passarão por avaliação.

 

Sobre o envio: Somente serão aceitos os contos recebidos no email creepymetalshow@gmail.com com o título “VOYEUR”. Prazo de envio: De 07/06/2023, a partir das 15 horas, até às 23:59 do dia  07/10/2023(prorrogado).

 

Sobre a publicação da lista de selecionados: Em até 15 (dez) dias úteis após o fechamento do período de envio dos contos.

 

Previsão de lançamento: Entre setembro e outubro/2023


Sobre as taxas: Não serão cobradas taxas para a participação do processo seletivo.

Os autores e autoras SELECIONADOS pagarão uma taxa de R$50,00 (Cinquenta Reais – pagamento somente via pix para a chave e-mail creepymetalshow@gmail.com) — por cada conto aprovado, acrescidos de valor por páginas extras além do limite previsto, se houver, conforme supra citado — para fins de custeio dos serviços de revisão, diagramação, capa,  artes e registro da obra (ISBN, Ficha Catalográfica).

 

OBS: No valor da taxa NÃO está incluído envio de livro, esta servirá apenas para cobrir os custos de edição (revisão, diagramação, capa e demais artes do miolo, ficha catalográfica e registro da obra). Cada autor poderá adquirir seu exemplar com o desconto previsto para os participantes da antologia.

 

Sobre a publicação: Será em livro físico, cuja impressão, venda e distribuição será à cargo da empresa Uiclap e posteriormente será disponibilizada a versão digital no Kindle/Amazon.

 

Sobre os direitos autorais: O Creepy Metal Show Editorial e o programa Creepy Metal Show terão direitos de publicação e exibição dos contos desta obra, contudo os autores e autoras ficarão livres para publicá-los em quaisquer outras obras.

 

Sobre os contos: preferencialmente contos inéditos, contudo também serão aceitos contos não inéditos. Como se trata de uma coletânea de contos eróticos, não serão aceitos contos escritos por menores de 18 (dezoito) anos.

 

Não aceitaremos, sob hipótese alguma, contos que façam apologia sobre machismo, homofobia, pedofilia, que sugestionem situações sexuais em que envolvam menores de idade, que firam ou ofendam a mulher e o universo feminino; que envolvam: sexo não consensual (estupro), zoofilia, necrofilia, coprofagia e etc. Contos que apresentarem qualquer um desses elementos citados serão sumariamente desclassificados.

 

O envio dos contos para a seleção pressupõe aceitação tácita de todos os termos contidos neste edital.


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